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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PARA REFLETIR...


"A utopia... está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Eduardo Galeano

sábado, 22 de outubro de 2011

LITERATURA - MUITO PRAZER!

LITERATURA - MUITO PRAZER!
Como escolher boa literatura para crianças?
Buscando critérios para a escolha de livros
POR Yolanda Reyes
Yolanda Reyes nasceu na Colômbia, é educadora, fundadora e diretora do Instituto Espantapájaros, em Bogotá – um projeto cultural de formação de leitores, dirigido não apenas as crianças, mas também a mediadores e adultos. Especialista em fomento à leitura, consultora, autora de artigos e livros sobre o tema da leitura, é autora de A casa imaginária: leitura e literatura na primeira infância (Global, 2010). É colunista do diário El Tiempo, de Bogotá e também se destaca pela sua obra literária para crianças e jovens. Dentre seus livros publicados no Brasil, destacamos É terminantemente proibido, A pior hora do dia, Saber perder e Terça-feira: 5ª aula (FTD) e Um conto que não é reconto (Mercuryo Jovem).

Essa é a pergunta mais frequente que os pais me fazem e não gosto de respondê-la em abstrato, pois se cada criança é diferente, os pais também são, e cada pessoa tem seus gostos, suas perguntas, suas maneiras de ler... Isso sem falar nas idades, porque temos incluídos nesse rótulo que os adultos denominam, genericamente, "crianças", desde os bebês até os adolescentes.
Mas essas também são categorias abstratas, porque um bebê pode gostar dos animais, enquanto outro pode preferir flores, e uma menina de dez anos pode odiar poemas, que outra criança adora. O mesmo ocorre com os romances de aventura, ou os que falam da vida real. O mesmo com os monstros e com as fadas. Alguns gostam de contos, outros, de histórias em quadrinhos. Alguns querem muitas ilustrações, outros, letras pequenas. E isso sem falar dos momentos, porque há livros para ler à noite e outros para ler durante o dia. Há livros para chorar e outros para rir. Alguns são perfeitos para responder àquela pergunta que não sai da nossa cabeça, enquanto outros nos deixam um monte de novas perguntas. Às vezes, precisamos de uma resposta e, às vezes, precisamos de mais perguntas.
E por aí vai...
Então, não existe resposta?
Na verdade, não existe receita.
Ou talvez pudesse haver uma: para uma criança ler, só precisa saber ler.
Ler como? Ler o quê?

1. Ler para as crianças
Quem são e do que eles gostam. O que eles nos dizem todos os dias – e o mais importante: o que eles não nos dizem. O que os faz perder o sono e o que os faz sonhar. De que brincam e com que brincam, com que se divertem, o que os faz chorar. O que sentem com os livros que vêm em casa, na biblioteca, na livraria, ou na sala de aula. Quais eles preferem. Eles podem ser totalmente distintos mesmo sendo gêmeos ou sentados numa mesma carteira. Nenhum especialista sabe o que você sabe sobre essa criança concreta que espera aquele livro em particular, em um momento preciso de sua vida. Confie na sua sabedoria instintiva. Seus próprios filhos são o seu primeiro texto de leitura.

2. Ler o livro, panoramicamente
Como você lê o descritivo das vitaminas numa caixa de cereal? Usando seus critérios. Você não compra a caixa de cereais apenas porque é mais colorida ou se tiver um personagem de Walt Disney. Tampouco compra um disco sem olhar a capa e as músicas que ele contém e, muitas vezes, inclusive, pede para ouvir.
Isso que é feito na loja de discos, ou na livraria antes de comprar um livro, para você, deve ser feito quando se trata dos livros para as crianças. Não compre o primeiro que lhe oferecem. Antes de olhar se tem capa dura ou adesivos, pergunte ao livro:
a) Quem assina?
Você não compra um livro anônimo, a menos que seja a Canção do Mio Cid. Nem é a mesma coisa comprar um romance de Saramago ou de um "escritor fantasma". O mercado está cheio de livros infantis assinados por multinacionais. Como em qualquer literatura, um verdadeiro escritor de livros para crianças garante o que escreve com a sua assinatura.
b) Quem é o ilustrador?
Nos álbuns ou livros de imagens, a ilustração é uma linguagem tão válida quanto o texto. Aprenda a diferenciar"desenhos" de uma ilustração com caráter e estilo próprios. (Aqui também, a assinatura de um ilustrador é uma garantia de que alguém está por trás desse trabalho.) Você está educando o olhar de uma criança. Cuidado com os estereótipos: o sol com rosto feliz ou a típica casinha triangular. Olhe mais longe: peça a ilustração que não se limite a repetir o que dizem as palavras, que as amplie, que brinque com elas; que proponha novas leituras; que deixe um espaço para a imaginação. Os bons livros de imagem podem ser o museu de uma criança.
c) É versão original ou adaptação?
No caso dos contos de fadas, das histórias de tradição oral ou dos clássicos, o livro deve dizer se é uma adaptação ou uma versão original. É diferente ler o Chapeuzinho vermelho de Perrault ou dos irmãos Grimm a ler uma adaptação, onde pode ter se perdido a força da linguagem e a carga simbólica das imagens. Cuidado, também com os romances simplificados. Alice no país das maravilhas, de Carroll, Pinóquio, de Collodi, Peter Pan e Wendy, de Barrie são novelas complexas e muito lindas e devem ser lidas no seu devido tempo. Ler essas obras resumidas em continhos de poucas páginas é como ler A Odisseia em um resumo de escola. É melhor que a criança possa desfrutar de toda a riqueza da obra quando crescer um pouco mais. Desconfie, também, dos clássicos para adultos em versões infantilizadas. Virá, no devido tempo, o momento de desfrutar a verdadeira voz de Shakespeare ou Cervantes.
d) Qual é a idade sugerida?
A maioria dos editores oferece sugestões de idade. Leve em conta essas recomendações, porém enriqueça-as com os seus critérios. Existem livros para todas as idades; há outros sem idade. Além disso, nem todos os processos leitores são os mesmos. A idade cronológica de um leitor é apenas uma das variáveis. Coteje a sugestão da editora com o seu conhecimento e o dessa criança de verdade que vai receber o livro.
e) Que editora publica esse livro?
Além do nome, verifique a cidade, o ano da publicação, o nome do tradutor etc. Desconfie se essas informações não estiverem explícitas. Vire as páginas; leia a capa e a contra capa. Você vai encontrar dados sobre o livro e seu autor que lhe darão as primeiras pistas.

3. Envolva as crianças na pesquisa
Leve as crianças a bibliotecas públicas e livrarias. Leia com elas e companhe-as em seu processo de crescimento como leitores. Acredite na palavra da criança, mas ao mesmo tempo, ofereça ferramentas para que possa ir educando os seus critérios. Na medida em que uma criança tem contato com literatura de qualidade, ela irá refinando a sua sensibilidade e tornando-se cada vez mais exigente. Nem sempre o que é fácil, o que está na moda ou o que está no topo da lista dos "mais vendidos" é o melhor. Não se deixe, tampouco, tentar pelas coleções completas que não garantem, por si só, a qualidade de cada título. Dê liberdade de escolha, mas ofereça, também, a riqueza de sua experiência como leitor adulto. E não queira acertar sempre. Ler é também equivocar-se.

4. Busque assessoria
O campo da literatura infantil é enorme. Muitos autores, ilustradores, gêneros e tendências que não conhecemos quando éramos crianças têm enriquecido enormemente as opções de leitura. Não fique limitado ao que você leu na infância. Aproveite as crianças para descobrir novas obras e não pretenda conhecer tudo. Busque um livreiro ou um bibliotecário que conheça literatura infantil. Consulte as listas de livros recomendados, as publicações sobre o assunto e as instituições que promovem a leitura. Você vai se surpreender com as descobertas e encontrará livros, não só para ler com seus filhos, mas também para você.

5. Não confunda uma obra literária com um livro didático
Assim como você procura muito mais que ensinamentos explícitos quando lê um romance de García Márquez, seu filho busca na literatura muito mais que um ensinamento moral. A literatura se move na esfera do simbólico e apela à experiência profunda dos seres humanos. Desconfie das mensagens explícitas e das morais óbvias. O mercado está cheio de livros infantis que "disfarçam" – sob o título de "conto" – as intenções didáticas dos adultos. Aprenda a diferenciar os manuais de autoajuda das obras literárias. A literatura não pretende explicar valores, letras do alfabeto, regras de polidez ou mensagens ambientais. Leia nas entrelinhas e não escolha um livro só pelo seu tema, mas pela sua forma e pela maneira como um autor constrói uma voz e um mundo próprios. Desconfie dessa linguagem pseudoinfantil, cheia de diminutivos e de histórias light, onde os protagonistas são tão perfeitos como ursos de pelúcia. (Seu filho vai ser o primeiro a "não engolir a história".) Os livros infantis podem ser atrevidos, transgressores, irreverentes, sutis, inteligentes, tristes... Todas essas nuances, que constituem a infinita variedade da experiência de um ser humano, alimentarão o mundo interior das crianças e lhes darão as chaves secretas para descriptografar muito sobre sua própria vida e sobre as emoções, sonhos e pesadelos sobre fantasia e realidade.
Quando você for ler literatura para uma criança, deixe-se tocar pela linguagem cifrada e misteriosa dos livros. Todo o resto virá depois.

TRADUÇÃO: DOLORES PRADES

terça-feira, 18 de outubro de 2011

PENSAMENTO DO DIA..

SEM A CURIOSIDADE
QUE ME MOVE,
QUE ME INQUIETA,
QUE ME INSERE NA BUSCA,
NÃO APRENDO E NEM ENSINO".

PAULO FREIRE

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

INFELIZMENTE É VERDADE

Ciência em baixa
Oferecer mais museus e atividades lúdicas não adianta; é preciso mais realidade nos currículos


SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Iniciativas lúdicas para atrair estudantes para as ciências funcionam. Mas, de acordo com especialistas, só se houver continuidade na escola, com um ensino que relacione fórmulas a problemas do cotidiano dos jovens.
"Precisamos de mais espaço para o aluno pesquisar o que lhe interessa e que tenha utilidade. Não adianta saber as leis de Newton e não saber o que é mudança climática", diz Paulo Blikstein, professor da Universidade Stanford (EUA).
Ele defende uma reforma no currículo do ensino de ciências, com a cobertura de menos tópicos com mais profundidade. O Brasil ocupa hoje um dos últimos lugares (53ª posição entre 65 países) em educação de ciências. A avaliação é da OCDE (Organização de Nações Desenvolvidas).
Os principais problemas por aqui são professores pouco qualificados e laboratórios (quando há) nada atrativos.
Além de deixar o país menos competitivo internacionalmente, com menos jovens motivados a seguir carreiras científicas e engenharias, a educação de má qualidade nessa área também é um instrumento de exclusão social.
"Não há como viver num mundo estruturado pela cultura científica sem estar informado sobre ela", diz Carlos Vogt, coordenador de um grupo de estudos da Unicamp que pesquisa a relação entre ciência e sociedade.
Jorge Werthein, doutor em educação pela Universidade Stanford, concorda. "Só quem entende um pouco de ciência consegue interpretar rótulos de alimentos e bulas de remédios", exemplifica.
Para ele, a relação entre educação, ciência e inclusão social é "evidente".
A "exclusão" mencionada por Werthein e Vogt pode também ser traduzida na maneira como a sociedade fica de fora de debates científicos importantes.
É isso que tem pregado Miguel Quintanilla, professor de lógica e filosofia da ciência da Universidade de Salamanca, na Espanha. "Se meu país desenvolve transgênicos com dinheiro público, por exemplo, eu tenho de entender minimamente o que é transgenia e tenho a obrigação de opinar", analisa o especialista.

ESTÍMULOS
O problema é que o Brasil vai mal na escola e também fora dela: de acordo um levantamento do MCTI (Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação), apenas 8% da população frequenta museus de ciência.
"A gente tem de estimular os professores e os estudantes", defende o físico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ildeu Moreira.
Ele é coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, do MCTI. O evento mobiliza instituições de todo o país a criarem atividades para para chamar atenção dos jovens para o tema.
A edição deste ano começa hoje e vai até o dia 23. São mais de 650 instituições inscritas na programação, oferecendo mais de 9.000 atividades.
Em Rio Branco, a Biblioteca Pública Estadual do Acre vai exibir gratuitamente documentários sobre ciência. No Rio de Janeiro, a Fundação Planetário fará sessões sobre "as maravilhas do Universo". E por aí vai. Para Moreira, esses "eventos mobilizadores" podem estimular o sistema educacional. Mas melhorar o ensino de ciências nas escolas continua sendo fundamental.
"Não podemos deixar que a criança, quando volta para a escola, encontre o mesmo ensino desestimulante e de má qualidade de sempre", conclui Blikstein.

LEIAM E VEJAM QUE INTERESSANTE

ENTREVISTA DA 2ª JAMES HECKMANÊnfase em testes empobrece a qualidade da educação, diz Nobel

PARA ECONOMISTA AMERICANO, ESCOLAS ESTÃO DEIXANDO DE TRABALHAR HABILIDADES COMO MOTIVAÇÃO, CONTROLE EMOCIONAL E INTERAÇÃO SOCIAL

Antonio Scorza - 11.out.2000/France Presse
James Heckman, em coletiva no Rio, em 2000

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Pressionadas pela cobrança de resultados em testes que medem o desempenho de alunos em leitura e matemática, as escolas estão cada vez mais negligenciando outras disciplinas e aspectos da formação igualmente importantes para explicar o sucesso na vida adulta. Essa crítica não é feita por alguém avesso a avaliações. Pelo contrário. O autor é o professor da Universidade de Chicago James Heckman, 67.
Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2000 justamente por sua contribuição na criação de métodos estatísticos que ajudaram a medir com mais precisão o impacto de políticas públicas. Seus estudos mostram que intervenções de qualidade que beneficiam crianças de famílias pobres desde a primeira infância têm impactos duradouros na vida adulta.
Os impactos mais significativos, porém, não são medidos em testes de matemática ou linguagem. São, principalmente, o que chama de habilidades não cognitivas, como motivação, controle emocional, disciplina ou capacidade de interação social.
Essas são características que também devem ser trabalhadas pela escola e que têm impacto significativo em fatores com renda futura, envolvimento em crimes, gravidez precoce e outros apontados em seus estudos.
Alguns deles foram feitos com o economista brasileiro Rodrigo Pinto, doutorando da Universidade de Chicago que participou da entrevista.
Heckman estará em São Paulo na semana que vem para o seminário Educação para o Século 21, promovido pelo Instituto Ayrton Senna. Leia trechos da entrevista feita por telefone à Folha.



 


Folha - O papel da escola está sendo reduzido a preparar para testes?
James Heckman -
Com certeza. É curioso porque, se pesquisarmos o que diziam os criadores desses testes, hoje aplicados a milhões de estudantes, eles sempre afirmaram que os exames captavam apenas parte do que se esperava da escola. Antes dos testes, a visão tradicional da educação era que as pessoas iam para escola para aprender a ter caráter, persistência, sociabilidade, coisas assim.
Daí surgiram medidas para avaliar outras habilidades. Foi o caso do teste de QI, criado no início do século passado para prever quem ia ser bem sucedido na escola. Um dos primeiros pesquisadores a desenvolver avaliações como essa, o psicólogo francês Alfred Binet, já admitia desde aquela época que outras habilidades importantes para o sucesso na escola não eram medidas por esses testes. O mesmo diziam os criadores do teste de Iowa, que foi uma enorme inovação nos EUA, há 60 anos, ao permitir que respostas fossem marcadas em cartões lidos por máquinas que facilitaram a aplicação de provas em massa. É irônico que o foco da escola tenha sido revertido para ensinar apenas os alunos a ir bem nesses testes. É uma subversão. As escolas nos EUA têm abandonado aulas de música, física ou outros assuntos por entenderem que isso é irrelevante e que o que importa é ir bem em testes de leitura e matemática.
Se eu digo que algum aspecto da sua vida será recompensado e outros não, as pessoas vão naturalmente desenvolver mais a parte que é recompensada. É o que está acontecendo nos EUA. Professores e diretores estão agindo assim não porque estão interessados em desenvolver a criança, mas em prepará-las para testes para que eles sejam vistos como bons professores e diretores.

Mas não é importante também avaliar os estudantes para saber se estão aprendendo o básico em leitura e matemática?
Testes têm o seu lugar, e não estou dizendo que devam ser abolidos. Você pode medir a performance de um professor, mas não deve reduzir essa tarefa a saber se um aluno passou ou não num teste. É importante também avaliar como o estudante encara tarefas que lhe são dadas, se é perseverante, se sabe trabalhar em grupo.
Rodrigo Pinto - Um bom exemplo é o processo seletivo de Harvard. Quando alguém tenta uma vaga, não avaliam apenas o desempenho em testes. Querem saber quais atividades paralelas o candidato tem, que esporte pratica, se já foi representante de classe, como é sua rede de relacionamento social.
Harvard não faz isso só por achar interessante ter um aluno com esse perfil, mas porque sabe que esses aspectos também são importantes para definir que sucesso o estudante terá na vida adulta. Boa parte dos recursos de Harvard vêm da doação de ex-alunos, então é preocupação deles admitir quem tem maior probabilidade de ser bem-sucedido.

Essas habilidades não captadas em testes podem ser ensinadas em escolas, ou é algo que se aprende só em casa?
James Heckman - Famílias têm um papel importante. Pais ensinam aos filhos essas habilidades encorajando-os, estabelecendo limites ou dando exemplos de bom comportamento. Mas há intervenções específicas desenhadas para ensinar crianças pequenas que as ajudam a ter foco na execução de tarefas e a trabalhar com os colegas de modo organizado e disciplinado.
É o caso do programa pré-escolar Perry, iniciado nos anos 60 no Estado de Michigan com alunos pobres de três e quatro anos. As crianças vão para a sala de aula e aprendem a planejar uma tarefa, a desenvolvê-la em grupo e a avaliar o resultado com os colegas. Num trabalho, mostramos que adultos que participaram desse projeto na infância se envolveram menos em crimes, tiveram rendas maiores e ficavam menos tempo desempregados se comparados a pessoas com as mesmas características que não participaram do programa.

Sabe-se que o cuidado nos primeiros anos de vida é muito mais importante do que se pensava para o desenvolvimento humano. Isso significa que crianças pobres que não se beneficiaram de uma intervenção adequada até os seis anos serão casos perdidos?
Seria insano achar que a trajetória de um ser humano vai se resumir ao que foi feito nos primeiros anos de vida. Nunca defendi que as intervenções feitas após esse período da vida são inúteis ou que devemos parar de investir em programas para quem não teve essa oportunidade quando criança. O meu ponto é que uma política adequada para a primeira infância fará todas as intervenções posteriores mais efetivas. O custo-benefício de uma intervenção nos primeiros anos de vida é muito mais vantajoso do que tentar remediar mais tarde. Mas há muito que pode ser feito, especialmente no desenvolvimento de habilidades não cognitivas que terão impactos na vida adulta, mesmo após os dez anos.

Ao enfatizar o cuidado nos primeiros anos de vida, não há risco de sobrecarregarmos ainda mais as mulheres, que dedicam mais horas que os homens para educar os filhos?
Creio que as evidências sobre a importância do cuidado adequado nos primeiros anos e seu impacto na vida adulta valorizam e reconhecem ainda mais o trabalho que hoje, de fato, é feito principalmente pelas mulheres. Mas ninguém está dizendo que elas têm que ficar em casa cuidando dos filhos, até porque há estudos mostrando que o aumento da escolaridade e da participação das mulheres no mercado de trabalho tem impactos positivos no desenvolvimento infantil.


 Folha de São Paulo, 17/10/2011